quarta-feira, 2 de setembro de 2009

AS TRÊS PERGUNTAS DO IMPERADOR


(Extraído do livro “Para Viver em Paz, O Milagre da Mente Alerta”, de Thich Nhât Hanh, prefaciado e traduzido por Odette Lara, 4º ed., Vozes, Petrópolis, 1986) É um pequeno livro, mas de ótimo conteúdo.) (Colaboração de Luiz Carlos Nogueira)


Segundo Thich Nhât Hanh, em seu livro “Para Viver em Paz, O Milagre da Mente Alerta”, Tolstoy contou certa vez uma estória, em que um certo imperador acreditava que para reinar satisfeito e sem cometer falhas, teria que conseguir resposta para três indagações suas:

Qual o momento mais oportuno para se fazer cada coisa?
Quais as pessoas mais importantes com quem trabalhar?
Qual a coisa mais importante a ser feita?

Para obter tal desiderato, anunciou que daria uma grande recompensa a quem lhe respondesse com certeza às perguntas. Muitos foram o que se apresentaram com as mais variadas respostas.

À primeira, alguém aconselhou-o a fazer um completo planejamento, dedicando todas as horas, dias, meses e ano a certas tarefas programadas, observando o seu estrito cumprimento, pois só dessa maneira ele teria a possibilidade de fazer cada coisa a seu devido tempo.

Uma segunda pessoa, respondeu-lhe que seria impossível planejar antecipadamente, mas que deveria abandonar todo e qualquer divertimento e permanecer atento a tudo, para poder saber o que fazer na hora certa.

A terceira pessoa afirmou que o imperador jamais poderia, por sí próprio, ter a previsão e competência necessárias para decidir quando fazer cada coisa. E que o melhor seria constituir um conselho de sábios e agir de acordo com o que fosse indicado por eles.
Uma quarta pessoa, finalmente, disse-lhe que certos assuntos requeriam providências imediatas, de forma que não poderiam ficar aguardando por uma decisão do conselho, mas que se o imperador quisesse saber dos acontecimentos antecipadamente, deveria consultar a mágicos e adivinhos.

Quanto à segunda pergunta, também não foram apresentadas respostas satisfatórias.

Uma pessoa disse que o imperador deveria depositar sua confiança nos administradores, outra, que deveria confiar nos padres ou nos monges. Uma outra, disse que deveria confiar nos médicos, e, outras ainda, que deveria confiar nos guerreiros.

Sobre a questão apresentada pela terceira pergunta, houve quem trouxesse uma variedade similar de respostas. Uns disseram-lhe que a coisa mais importante a fazer era a ciência. Outros, porém, falaram-lhe em religião, e alguns ainda achavam que a coisa mais importante era a arte bélica.

Não obstante a enxurrada de respostas, nenhuma satisfez ao imperador que não recompensou a ninguém. Contudo, ficou ele a refletir por muitas noites, e por fim resolveu, disfarçado de camponês, procurar um eremita que habitava nas montanhas, que era tido como homem iluminado, mas não atendia a ricos e poderosos — apenas os pobres.

Ordenando aos seus criados que o esperassem ao sopé da montanha, subiu-a indo ter com o eremita que lavrava a terra da horta que havia plantado em frente à sua choupana.

Ao avistar o forasteiro, o eremita acenou-lhe com a cabeça e continuou a capinação. O trabalho que executava era muito penoso para um homem com a sua idade, de forma que cada vez que enterrava a enxada na terra, para revolvê-la, esse movimento era acompanhado de um profundo suspiro.

Impaciente, o Imperador falou-lhe: vim até aqui para pedir-lhe ajuda, ou seja, quero que me responda a três indagações, para que eu possa guiar-me nas resoluções que pretendo tomar:
Qual o momento mais oportuno para se fazer cada coisa?
Quais as pessoas mais importantes com quem trabalhar?
Qual a coisa mais importante a ser feita?

O eremita limitou-se apenas a ouví-lo, mas não respondeu. Deu-lhe uma palmadinha amistosa nos ormbros e continuou a trabalhar calado.

Diante de tal atitude o Imperador então disse: Você deve estar cansado, deixa-me dar-lhe uma ajuda ! Ao que o eremita agradeceu e passou-lhe a enxada, sentando-se ao chão para descansar.

Após haver cavado dois canteiros, o Imperador parou voltando-se para o velho e repetiu suas três perguntas. Porém, o eremita ao invés de responder, levantou-se e apontando para a enxada disse: Por que não descansa agora ? Eu posso retomar o meu trabalho novamente ! Mas o Imperador não lhe devolveu a enxada e continuou a cavar.

Escoaram-se as horas e o sol começou a sumir atrás da montanha, e o Imperador colocando a enxada de lado falou novamente ao eremita: Eu vim até aqui na esperança de que você fosse capaz de responder-me as três perguntas, mas se não puder respondê-las, por favor, me diga, para que assim eu volte para casa !

Eis, porém que de repente o eremita ergueu a cabeça e perguntou ao Imperador: você não está ouvindo passos, como se alguém esteja correndo nas proximidades ?

O Imperador voltando-se e, de repente surgiu do meio do mato, um homem com longa barba branca. Muito ofegante, o homem tentava cobrir com as mãos, o sangue que lhe escorria de um ferimento no estômago, vindo em direção ao Imperador, antes de tombar no chão, inconsciente.

Ambos, o eremita e o Imperador abriram a camisa do homem, e viram que havia recebido um corte muito profundo. Então o Imperador limpou-lhe o corte, usando sua própria camisa para atá-la, porém logo o sangue a encharcou. O imperador lavou a camisa e enfaixou-o novamente, continuando assim até parar o sangramento.

Voltando à si o homem ferido pediu água, que o Imperador lha deu indo buscar no rio. Com o passar do tempo já se fazia noite e o frio era sentido. Assim o eremita e o Imperador carregaram o homem para a choupana, e o deitaram na cama onde adormeceu.

Esgotado, também o Imperador recostou-se numa banqueta e também adormeceu, vindo a desperta-se com o dia já claro. Por instante não se lembrava onde estava e o que lá fazia. Esfregou os olhos e em seguida viu o homem ferido que, deitado, também olhava confuso ao seu redor. Mas, ao ver o Imperador, o homem fixou-o, e murmurando com voz fraca, disse:
— Perdoa-me, por favor !
— O que você fez para que eu o perdoe ? Respondeu-lhe o Imperador.
— Vossa Majestade não me conhece, mas eu o conheço. Eu era seu inimigo declarado e tinha jurado me vingar por meu irmão ter sido morto na guerra e minhas propriedades terem sido confiscadas. Quando soube que V.M. vinha sozinho até aqui, resolvi surpreendê-lo no seu caminho de volta, e assim matá-lo. Como não consegui vê-lo após ter ficado escondido horas a fio, decidi-me sair à sua procura. Mas ao invés de encontrar V.M. deparei-me com seus criados que me reconheceram e me feriram. Felismente consegui escapar e correr até aqui. Não tivesse eu encontrado V.M., certamente estaria morto agora.
— Eu vim para matá-lo e V.M salvou-me a vida ! Estou muito envergonhado e ao mesmo tempo agradecido. Se eu conseguir recuperar-me, juro, serei seu mais fiel servo pelo resto de minha vida e o mesmo pedirei que o façam, meus filhos e meus netos. Agora o que mais desejo é o seu perdão.

Para o Imperador foi uma grande alegria a oportunidade que teve de reconciliar-se com seu ex-inimigo, de sorte que disse que: não só o perdoava como também prometeu devolver-lhe as propriedades, ordenando ao seu próprio médico e criados, tratarem-nos até sua total recuperação.

Depois de mandar aos criados que levassem o homem ao seu lar, o Imperador voltou a ter-se com o eremita, pois quis antes de retornar ao palácio, repetir suas três perguntas, numa última tentativa de obter-lhe as respostas de que tanto acreditava necessitar. Encontrando-o de novo, semeando a terra que havia sido preparada no dia anterior, após ouvir o Imperador, disse — Mas as suas perguntas já foram respondidas ! Como assim, redarguiu o Imperador intrigado.

— Ontem, se V.M não se tivesse compadecido de mim e me ajudado a cavar a terra, teria sido assassinado por aquele homem. Portanto:
— o tempo mais oportuno foi quando esteve cavando os canteiros;
— a pessoa mais importante fui eu, e
— a coisa mais importante a fazer foi me ajudar.
— mais tarde, quando o homem ferido apareceu, o tempo mais oportuno foi enquanto esteve tratando de seu ferimento, pois se não lhe tivesse socorrido, ele morreria e V.M teria perdido a chance de reconciliar-se com ele.
— Da mesma forma, ele foi a pessoa mais importante, e
— a coisa mais importante foi cuidar do seu ferimento.
— LEMBRE-SE DE QUE SÓ EXISTE UM TEMPO IMPORTANTE E ESSE TEMPO É O AGORA.
— O PRESENTE É O ÚNICO TEMPO TEMPO SOBRE O QUAL TEMOS DOMÍNIO.
— A PESSOA MAIS IMPORTANTE É AQUELA QUE ESTÁ À SUA FRENTE.
— A COISA MAIS IMPORTANTE É FAZER ESSA PESSOA FELIZ.

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