Por Luiz Carlos Nogueira
O vocábulo “tomar”, tem um duplo sentido. Um primeiro sentido seria o de ingerir conteúdo de (copo, prato etc.), um segundo sentido, é o mesmo que apoderar-se pela força. Este último é que se aplica no caso deste artigo.
Pois bem, todos nós brasileiros nos orgulhamos de possuir a maior floresta do mundo — a floresta amazônica, que abriga uma riqueza incalculável de jazidas de minérios, uma flora que contém inimaginável fonte de substâncias curativas e uma fauna que possui uma diversidade de espécimes de vida.
Todavia, a questão o aquecimento global do planeta terra, por consequência de emissões de gases que provocam a destruição da camada de ozônio, que protege a vida do planeta dos raios solares, é dos fatores que causarão danos imprevisíveis nesta nossa morada provisória.
E é aí precisamos pensar com realismo, sem que se diga que é uma forma alarmista e pessimista de encarar esses problemas. Mas a ignorância e a inconsciência do ser humano são coisas que mais dão medo.
Alguém já pensou que quando todas as fontes de recursos naturais se exaurirem nos arredores que tenham se transformado num árido deserto, e que próximo a esse deserto existir terras férteis, com tudo o que é necessário para manter a vida de uma maneira geral? Então onde acham que os lobos do deserto viriam “tomar” água e arranjar comida?
Quem assistiu os filmes: “O planeta dos macacos”, “E assim caminha a humanidade”, ou lido as obras literárias: “Ensaio sobre a cegueira”, de José Saramago, ou “A Peste”, de Albert Camus” poderá avaliar a natureza humana, pelo que levou Thomas Hobbes a dizer que “o homem é o lobo do homem”.
De nada tem valido os atos extremos como o do ambientalista Francisco Anselmo de Barros, 56 anos, presidente da organização Fundação para Conservação da Natureza de Mato Grosso do Sul, em Campo Grande (Ms), que ateou fogo no próprio corpo durante manifestação contra a implantação de usina de álcool no Pantanal. As pessoas não conseguem enxergar que estão assinando próprias suas sentenças de morte, quando deliberadamente agridem ou permitem que se agrida o meio-ambiente.
Depois quando acorrem catástrofes por conta dessas insanidades, costuma-se atribuir com sendo causa disso tudo — a vingança da Natureza. Aliás, diga-se, uma alusão insensata, porque a Natureza não se vinga de ninguém que a agride, porquanto ela constitui uma força inteligente e organizada, que apenas procura se recompor (reorganiza-se) independente do que possa acontecer com que nela está inserido (pessoas, animais, plantas, coisas), para continuar cumprindo com a sua finalidade.
Um dia desses fiquei pasmo com uma pessoa que disse não estar preocupada com os problemas ambientais, porque segundo ela, estaríamos próximos ao fim do mundo e que Jesus voltaria para ressuscitar todos os mortos e restaurar integralmente a Natureza. É como se ouve dizer costumeiramente: “E agora? Durma com um barulho desses!”
De um lado a sanha destruidora do ser humano, como um culto ao “deus lucro” e ao “deus dinheiro”; do outro lado, a credulidade infantil daqueles que acreditam em tamanho disparate.
Como escreveu Leonardo Boff (in “Saber Cuidar: Ética do Humano”): “Parca é a consciência que pesa sobre o nosso belo planeta. Os que poderiam conscientizar a humanidade desfrutam gaiamente a viagem em seu Titanic de ilusões. Mal sabem que podemos ir ao encontro de um iceberg ecológico que nos fará afundar celeremente.
Trágico é o fato de que faltam instâncias de gerenciamento global dos problemas da Terra. A ONU possui cerca de 40 projetos que tratam de problemas globais, como os climas, o desflorestamento, a contaminação do ar, dos solos e das águas, a fome, as epidemias, os problemas dos jovens, dos idosos, as migrações, entre outros. Ela é regida pelo velho paradigma das nações imperialistas que vêem os estados-blocos de poder mas não descobriram ainda a Terra como objeto de cuidado, de uma política coletiva de salvação terrenal.
Para cuidar do planeta precisamos todos passa alfabetização ecológica e rever nossos hábitos de consumo. Importa desenvolver uma ética do cuidado.”
“[...] O cuidado essencial é a ética de um planeta sustentável. Bem enfatizava o citado documento Cuidando do Planeta Terra: “a ética de cuidado se aplica tanto a nível internacional como a níveis nacional e individual; nenhuma nação é auto-suficiente; todos lucrarão com a sustentabilidade mundial e todos estarão ameaçados se não conseguirmos atingi-la”. Só essa ética do cuidado essencial poderá salvar-nos do pior.[...]”
Infelizmente é quase impossível fazer esse tipo de pessoa (que não se preocupa com o meio ambiente sob a alegação de que Jesus vai voltar e restaurar tudo), raciocinar para entender a necessidade de cuidar do meio ambiente.
Mas que raciocínio é possível ter, também, e, por exemplo, pessoas que ficam doentes só porque seu time de futebol perdeu uma disputa? Pessoas que fazem parte de torcidas fanáticas que guerreiam entre si, simplesmente porque são de times diferentes? Pessoas que são capazes de bater e até matar por isso?
Como é possível fazer as pessoas que se envolvem com rinha de galos, raciocinar?
Como é possível fazer as pessoas que apreciam rodeios, pensar, se nem se dão conta de que os animais são maltratados?
Como é possível fazer as pessoas raciocinar, se votam para reeleger políticos corruptos?
Quando os seres humanos resolverem despertar para uma consciência ecológica, será que não vai ser tarde demais?
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